Para alcançar velocidades extremas, Evandro Portela nem pensa no medo do que pode dar errado.

O paranaense Evandro Portela não é um ciclista comum. Com 30 anos de pedal, muitos deles como ciclista profissional, Evandro atualmente se destaca por desafiar os limites humanos pedalando a velocidades extremas: seu recorde de 202 km/h em cima da bicicleta, de 2017, é desconcertante.

>> Conheça a loja Bikehub!

Convidado do podcast Bikehub 19, Evandro conversou com Celson Anderson sobre sua obsessão por velocidade. Ouça aqui e saiba tudo sobre esta modalidade insana de pedal.

Abaixo, você confere um bate-papo rápido que tivemos com ele.

HÁ QUANTO TEMPO VOCÊ PEDALA?

EVANDRO PORTELA: Pedalo há 30 anos, quase 20 deles no ciclismo de alto rendimento.

COMO FOI SUA TRAJETÓRIA NO CICLISMO?

EVANDRO: A minha trajetória no ciclismo foi fantástica. Ainda criança meu pai me pôs para competir, logo conheci os campeões que antes só via em revistas, e comecei a realmente me apaixonar pelo ciclismo.

DE ONDE VEM A PAIXÃO POR VELOCIDADE?

EVANDRO: A busca por velocidades maiores me fascina desde que eu era jovem, tinha uns 15 anos. Pedalava atrás de motos, carro, ônibus, o que encontrasse pela frente. Sempre soubemos que com transmissão e coroa apropriadas, a bike andaria cada vez mais. Resolvemos testar, e deu certo.

COMO É A PREPARAÇÃO PARA A BUSCA DE RECORDES?

Evandro e sua bike envenenada.

EVANDRO: A preparação em busca de recordes é uma tarefa muito difícil, não é do dia para a noite e envolve uma equipe grande – eu pedalando e nove outras pessoas no staff, entre departamento jurídico, manager, publicidade e gestores. É uma tarefa complicadíssima preparar o cenário perfeito para passar a barreira dos 200 km/h na bike.

COMO SÃO OS SEUS TREINOS?

EVANDRO: Os treinos são como de atleta profissional. Claro que não com tanta intensidade, mas sempre mantendo o fio da meada, pedalando de 600 km por semana a 800 km por semana, dependendo do clima. Sempre treino em alta velocidade, faço bastante treino de tiro e montanha. Basicamente a rotina de um ciclista profissional, se não não tem como.

QUAIS AS DIFERENÇAS DA BIKE DE ALTA VELOCIDADE PARA UMA BIKE NORMAL?

A bicicleta do recorde (Foto: Mario Mele, reprodução revista Go Outside)

EVANDRO: A bicicleta do recorde é mais comprida, com 46 polegadas (116 cm) de eixo para eixo (bikes de estrada geralmente têm cerca de 37, ou ). Também tem as peças e engrenagens diferenciadas. No lado direito, 73 x 21, e no lado esquerdo, 73 x 9, o que equivale a 146 dentes. São 28,5 metros a cada pedalada completa.

A bicicleta do recorde também é muito mais pesada que uma bike normal: ela tem 24 kg, para não levantar vôo durante as tentativas. Quando você pedala a essa velocidade, existe o problema do vento, que fica muito forte e quer “te tirar” dali. É preciso ter a mente muito equilibrada, e uma sincronia perfeita entre mente, carro e pedalada, com muito treino e sabedoria na preparação.

COMO VOCÊ LIDA COM O MEDO?

EVANDRO: Eu sou um cara que nunca tive medo. Claro que faço tudo com o pé no chão, é uma mistura de ousadia, talento e serenidade. Tudo tem que ser feito com equilibro da mente. Sem isso, não dá nem para sair na rua. Tem que estar com a mente muito forte para poder tentar esse tipo de recorde.

QUAIS FORAM SUAS MAIORES CONQUISTAS ATÉ HOJE?

EVANDRO: No ciclismo profissional, onde estive até 2007, pude competir no circuito europeu, pedalei em duas equipes portuguesas, como gregário. Corri duas Voltas a Espanha, em 1999 e 2000. Também corri Volta a Algarve e Volta de Asturias. Corri na geração do Lance Armstrong, uma geração muito difícil. Corri com vários heróis do ciclismo da época, foi muito bacana.

Em 1997, ganhei 12 corridas como amador, alguns criterios e o Tour de l’Est, na França, uma corrida com 6 etapas de amadores (na época, com categorias Amador e Profissional). Foi uma conquista muito grande, ganhei duas etapas. Também ganhei o terceiro lugar geral na Volta de Madri em 1997.

QUAIS SÃO SEUS PRÓXIMOS OBJETIVOS?

EVANDRO: Meu próximo objetivo, que está marcado para setembro de 2021, é tentar ultrapassar os 200 km/h no salar de Uyuni, na Bolívia. Quando abrir a fronteira novamente (atualmente fechada devido à pandemia do Covid-19) vamos tentar entrar no país para treinar no salar. Vou tentar atravessar a barreira dos 200 km/h sem agarrar em nada, apenas enfrentando o vento. Sao 28 km de pista.
*

Veja o vídeo do recorde de 2017: