Pedalar pode ajudar no combate à depressão e à ansiedade. Entenda como a bicicleta pode ser uma aliada da saúde mental

Praticar uma atividade física não faz bem só para o corpo. A mente também se beneficia muito de uma rotina frequente de exercícios. E a bicicleta pode ser uma aliada da saúde mental.

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Frente ao caos urbano, às exigências da vida moderna e, mais recentemente, ao peso da pandemia de Covid-19 nas nossas vidas, pedalar pode ser um grande alívio e um momento de paz dentro do turbilhão.

bicicleta e saúde mental
Pedalar traz diversos benefícios, físicos e mentais.

Conversamos com duas psicólogas para falar sobre a bicicleta como aliada da saúde mental e entender melhor como o ciclismo pode ajudar quem se sente ansioso ou deprimido.

A psiquiatra Eloisa Muraroto, formada pela Santa Casa de São Paulo, e a psicóloga Thais Rueda, psicóloga do esporte e exercício, nos contaram mais sobre os benefícios do pedal para a saúde mental.

Confira:

A ATIVIDADE FÍSICA REGULAR É ESSENCIAL PARA A SAÚDE MENTAL?

Atividades físicas são fundamentais para manter a mente equilibrada.

ELOISA: Com certeza! O exercício físico melhora muitas questões que envolvem saúde mental: humor, disposição, pragmatismo, qualidade de sono, auto-estima, disciplina, respiração, equilíbrio, diminuição do estresse, dores, e por aí vai… muito além dos benefícios físicos.

THAIS: A prática regular da atividade física traz diversos benefícios psicológicos como a melhora do autoconceito, autoimagem e autoestima; melhora das funções cognitivas (atenção e concentração); aumento do vigor; melhora do humor e da capacidade de lidar com o estresse psicossocial; e redução dos estados de tensão, sendo assim essencial para o bem-estar.

A atividade física também produz um efeito protetor contra o desenvolvimento de transtornos mentais. 

>> Ouça o podcast Bikehub sobre o papel da bicicleta na saúde mental, com o psiquiatra Pedro Altenfelder.

COMO A ATIVIDADE FÍSICA PODE AJUDAR EM CASOS DE DEPRESSÃO OU ANSIEDADE?

Exercícios físicos têm efeitos fisiológicos positivos para o corpo.

ELOISA: A atividade física, associada à psicoterapia em casos leves, pode ser considerado tratamento para esses quadros. Em casos mais complexos, é um dos melhores coadjuvantes no tratamento.

O exercício ajuda a regular neurotransmissores, que são envolvidos nesses processos. Estudos têm sugerido que esses acometimentos mentais podem ser causado por processos inflamatórios do organismo, e o exercício, como é um anti-inflamatório natural, também atuaria nisso.

É importante procurar ajuda médica quando estiver suspeitando desses sintomas para ter a melhor orientação.

THAIS: A atividade física afeta positivamente os mecanismos psicológicos que liberam  neurotransmissores como a serotonina, ligada à sensação de prazer e satisfação, e a endorfina, que está relacionada à elevação do humor, à redução da ansiedade e do impacto estressor do ambiente.

As mudanças positivas do humor são observadas principalmente na realização de exercícios físicos de baixa intensidade. Exercícios de alta intensidade não são tão recomendados, pois podem causar um aumento dos níveis de ansiedade, tensão e fadiga.

A atividade física pode ser considerada uma alternativa não farmacológica no tratamento da depressão e ansiedade, mas a adesão a ela não descarta também a necessidade de acompanhamento médico e psicológico.

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THAIS: A atividade física afeta positivamente os mecanismos psicológicos que liberam  neurotransmissores como a serotonina, ligada à sensação de prazer e satisfação, e a endorfina, que está relacionada à elevação do humor, à redução da ansiedade e do impacto estressor do ambiente.

As mudanças positivas do humor são observadas principalmente na realização de exercícios físicos de baixa intensidade. Exercícios de alta intensidade não são tão recomendados, pois podem causar um aumento dos níveis de ansiedade, tensão e fadiga.

A atividade física pode ser considerada uma alternativa não farmacológica no tratamento da depressão e ansiedade, mas a adesão a ela não descarta também a necessidade de acompanhamento médico e psicológico.

EXISTE UMA FREQUÊNCIA MÍNIMA RECOMENDADA?

bicicleta e saúde mental
Dedicação e regularidade no pedal trazem benefícios maiores.

ELOISA: No mínimo três vezes por semana sendo moderada/intensa, ou seja, tem que suar a camisa e ter uma regularidade. A partir de um mês já observa-se diminuição dos sintomas.

Nos pacientes que fazem exercício a evolução da melhora e manutenção dela é muito notável. E quando há a indicação da retirada de medicamentos, o exercício físico é fundamental para que o paciente continue estável.

THAIS: São recomendados exercícios físicos diários, em particular o aeróbio, realizado com intensidade moderada e longa duração (a partir de 30 minutos).

Para observar os efeitos psicológicos do exercício e do esporte, é necessário um tempo de prática que varia entre quatro e 20 semanas.

COMO VOCÊ ACHA QUE O CICLISMO PODE AUXILIAR NESTES CASOS?

Pedalar, nem que seja apenas por lazer, é extremamente benéfico para a saúde mental.

ELOISA: Acredito que o ciclismo, além de ser um exercício físico, pode ser considerado também um momento de lazer. Você sai para um passeio, pode ser com familiares e amigos, ou até mesmo passando um tempo sozinho, em lugares ao ar livre. São coisas que trazem bem estar pra qualquer pessoa.

E no contexto da pandemia também pode ser uma atividade boa de ser realizada. Claro que tomando os devidos cuidados, como o uso de máscaras, distanciamento social e em horários sem grandes movimentações.

THAIS: Além de ser uma distração das preocupações do dia a dia, é uma atividade que melhora o senso de autoeficácia e competência percebida, e contribui para as relações psicossociais.

O treino de ciclismo, feito com os equipamentos corretos, é uma atividade rítmica, que promove um estado meditativo e estimula a capacidade de concentração e de memória. Ajuda na liberação dos neurotransmissores (serotonina, endorfina) e na regulação hormonal (adrenalina e cortisol).

BICICLETA: ALIADA DA SAÚDE MENTAL – CONFIRA EXPERIÊNCIAS DE QUEM JÁ PASSOU POR ISSO:

A seguir, veja depoimentos de ciclistas que encontraram na bike um auxílio importante, usando a bicicleta como aliada da saúde mental.

>> Angela Sabrina, 37, entomóloga:

“Há oito anos me trato de depressão bipolar e ansiedade. Faço acompanhamento médico com psiquiatra e psicóloga.

Para mim é muito difícil sair à rua devido à ansiedade, e prefiro usar a bike como meio de transporte para pedalar na cidade. Também para fazer esporte/lazer e combater a depressão. Eu tenho tido crises depressivas muito fortes, mas desde que retomei o hábito de pedalar me sinto melhor. Consigo diminuir as crises me exercitando.

Pedalar me deu liberdade para me locomover, me ajuda a evitar os ataques de pânico e a ansiedade que me causa o transporte público lotado e caótico.

Também melhorou minha forma física, emagreci o peso que tinha ganhado com os medicamentos psiquiátricos. E o mais importante: me sinto mais saudável, confiante e com melhor autoestima”.

>> Paulo Preto, 54, fotógrafo:

“Sempre usei a bicicleta. Trabalho como fotógrafo e por algum tempo aproveitei meu gosto pelo ciclismo urbano para começar a ganhar dinheiro, trabalhando como bike messenger nas horas vagas. Fiquei três anos conciliando a fotografia com o trabalho como courier. Até que tive a infeliz ideia de comprar um carro e começar a trabalhar como motorista de aplicativo.

Depois de alguns meses comecei a ter crises de pânico por causa do tempo no carro. Era comum ficar com medo e passar por situações estressantes. Ficava muito tempo parado no trânsito, lidava com passageiros impacientes e andava por locais ermos. Passei a tomar remédio. Tinha taquicardia e vivia contrariado. Foram quase três anos intensos.

No tempo em que eu passava manhãs pedalando pela cidade, mesmo sendo fisicamente puxado e enfrentando os perigos do transito paulistano, eu não tinha ansiedade, medo ou desconforto”.

>> Tiago Penteado, 39, jornalista:

“Eu tenho transtorno de ansiedade há anos, acredito que os primeiros sintomas começaram ainda na adolescência. Um dos fatores foi a minha “luta” em assumir minha homossexualidade.

Ainda na adolescência, a bike funcionou como ponto de fuga e como uma terapia. Eu morava em uma cidade pequena do interior e passava as tardes depois das aulas pedalando.

Hoje eu tomo medicamentos ansiolíticos, mas a bike funciona para que eu não sinta tanto os efeitos da ansiedade. Desde que intensifiquei o uso da bicicleta não sinto mais com tanta frequência sintomas como taquicardia, tremedeira, falta de ar e sensação de sufocamento”.

>> Tiso Khan, 38, agente de pesquisas e mapeamento:

“Pedalo desde os 13 anos, sempre me encantei por bicicletas. Usava a bicicleta para ir à escola e para trabalhar, mas aos 21 parei.

Quando cheguei aos 30 estava tendo câimbras o tempo todo, travamentos musculares e pouquíssima disposição física. Além disso, pegar ônibus lotados pela terceira década em seguida me fazia oscilar entre a apatia e a fúria.

Redescobrir a bicicleta aos 35 anos mudou completamente o meu ânimo no dia a dia. Trouxe aquela sensação de autonomia e aventura que, quando criança e adolescente, eu achei que ia encontrar em carros e motos, mas não encontrei.

A simplicidade e rusticidade da bicicleta, junto ao fato de que ela praticamente se funde cineticamente ao ciclista, trouxe cores intensas para todos os dias”.